domingo, 11 de dezembro de 2011

Passagem 2

Continuando a postagem anterior:
No dia seguinte, lá estava eu como Muriel, pronta pra mais um Ato, com a mente no pequeno grande garoto do dia anterior. Durante o pré-ato, foram feitas as divisões dos trios de palhações e meus companheiros nessa viagem "alucilúdica" foram Pimenta e Borboletinha. Nos desbravamos no 2° andar. Onde encontramos um monstro malvado nas cobertas de uma paciente simpática e a Muriel na tentativa de protege-la ficou presa, teve que cantarolar (desafinadamente...rsrsrs) para ser libertada, o Pimenta também se aproveitou da coitada e lhe fez uma peruca de bolhas alegando ser mais novo-tratamento-linda-bela-feminino-para-palhaças. A meninada pira com as judiações entre palhaços, mas ela não deixou barato, fez ele ficar todo torto pra entrar no segundo quarto =P.
As crianças estavam ativas e tudo ocorreu alegremente.
No final do ato, Muriel permitidamente pelo Pimenta, deu uma escapadinha pra ver o A. no 4° andar.
Entrei timidamente pelo corredor, estava tensa, estava sozinha sem nenhum outro clown para fazer alguma palhaçada para ele rir, imaginei que aquela visita seria um desastre, mas uma promessa de palhaço é mais que uma promessa, é uma dívida que tem que ser paga.
Cheguei na porta do quarto dele, e o sorriso que ele abriu ao me ver, pagava todo o fim de semana. Entrei, fiz a higienização habitual e fui para perto da cadeira que ele estava sentado. Não fiz nada engraçado, apenas conversamos. Não lembro como, iniciamos uma atividade de espelho um com o outro. Estava divertido até que ele me fitou seriamente por algum tempo. Eu ainda presa ao espelho, fiz o mesmo. Então ele com seu dedinho indicador direito, encostou no meu nariz vermelho, sem pensar fiz uma cara de susto e ele... caiu no riso! E fez de novo, e de novo, e de novo... e cada vez ria mais e mais, era uma gargalhada atrás de outra, livre e gostosa de ouvir.
É uma gargalhada gostosa de lembrar. Nas minhas sacrificantes viagens urbanas matinais a caminho do trabalho, lembrar desse momento, do risinho sincero e espontâneo de um gesto tão simples quanto a expressão de um susto, tão rápida que foi a visita torna o dia mais colorido e feliz.

Passagem 1

Era o primeiro dia de outubro, um sábado a tarde quando fomos visitar a ALA infantil do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), era meu primeiro ato treino, como Muriel, minha clown. Ao contrário do que eu mesma pensei que fosse acontecer, eu não estava ansiosa, não estava inquieta, nem nada. Mas magicamente tudo foi ganhando forma... cada vez que pintava o rosto, vestia a roupa, ajustava o cabelo, ia parecendo a Muriel. Sem traumas, nem assuntos pessoais, ou tristeza. E agora sim, as borboletas voavam em meu estômago. Perguntinhas me invadiam a mente: será que as crianças vão gostar? Era a primeira vez que entraria num quarto como palhaça. Nos organizamos, as visitas por andar, são de três palhaços juntos, fiquei com Lola e Inhá Amarela. Incrivelmente naquele dias, os funcionários estavam mais simpáticos com os voluntário que de costume.
Brincamos com todos e de um modo natural fomos bem correspondidos. Começamos pelo 4° andar. Foi um pouco difícil entrar no 1° quarto, pois nosso anfitriã não nos permitia. Até que tiramos nosso elemento mágico da manga! Sim, as bolhas de sabão. Ele ficou encantado e me permitiu entrar devagarinho. Logo minhas companheiras entraram também.
Foi uma visita muito divertida naquele andar. Mesmo sendo minha primeira vez, tive um bom entrosamento com o trio.
No 2 ° quarto, haviam um garotinho pequenino, não lembro sua idade, mas estaria entre os 4 aninhos. Tentei brincar com ele, mas ele se dedicava apenas a televisão e me ignorava, foi então que tentei imitá-lo e me posicionei do mesmo jeito que ele: agachei um pouco (como se sentasse num banco invisível), coloquei uma das pernas em cima do joelho e fiquei equilibrando o corpo em um uma perna só. Mas de repente, sem planejar comecei a "bambear" de lá pra cá, de cá pra lá e o garotinho não conseguiu controlar o riso. Percebendo aquilo, continuei propositalmente, e do riso levei o menininho a gargalhadas incontroláveis. Nos demais quartos, tudo fluia perfeitamente. As crianças, acompanhantes e enfermeiras nos acompanhavam em todos os leitos para assistir as atrapalhadas.
Em um dos momentos estávamos com tantos espectadores que uma médica que estava no andar, foi correndo assustada à onde estávamos achando que a multidão no quarto era porque alguém estava passando mal. (rsrsrs)
Entre aquelas singelas paredes do hospital, realizamos desfiles, concurso de dança, concurso de nariz, briga pra passar primeiro na porta, encontramos um amigo oculto do palhaço Pimenta, o sr. Alho, inventamos histórias, brincamos de esconde-esconde, pega-pega de bolhinhas, etc...

Houve um caso particular para Muriel, já no último quarto do 4° andar, um menino de 8 anos, o A.. Ele interagiu muito bem conosco, e no fim de nossa passagem em seu quarto, pediu que voltássemos no dia seguinte, lembramos que havia Ato marcado para o dia seguinte e argumentamos que outros palhaços iriam voltar, afinal, não estávamos escaladas. Porém, ele foi taxativo, queria NÓS! Eu não consegui resistir aquele apelo, e prometi voltar no dia seguinte.
Mas o mais importante: levamos sacolas lotadas de sons de gargalhadas, e muita, muita felicidade pura.
Inhá Amarela, Tuts-Tuts e Muriel